segunda-feira, 2 de maio de 2016

Poesia: Carrinhos de Bate-bate

Escrevi este poema na África em Outubro de 2015 inspirada numa situação real, situação esta que transpassa continentes...

Carrinhos de Bate-bate

O que vejo
Mãe de Deus
Senão dois humanos
Tão quadrados
Tão esquios
Sabonetados
Sebosos
Que ninguém pode tocá-los
É chegar perto
E sentir
Os choques
Dos raios e trovões
De sua capacidade
E incapacidade
De diálogo

E o diálogo especialista
Deveria ser especializado
Não?

É que ali não tem especialização que dê jeito
Sim
Jeito!
O jeito de aceitar
Que não está fazendo
Do jeito certo.

Credo, os dois carrinhos
Se batem
Rebatem
Rebatem-se muito
Só se batem
E batem
E estalam
E esmurram-se
E golpeam-se
Cospem-se
Perguntam-se
Acendem-se
Amassam-se
Remetem-se
Chocam-se

E o consenso?
O consenso também não especializado
Especialistas
Não são especiais
Bossais
Animais
Canibais
Surreais
Banais

Perdidos
Iludidos
Caídos
No infinito
De seus vazios
Frios
Sombrios

Ocos
Mocos
Bocos

De ninguém
Pra ninguém
Terra de ninguém

Terra que ninguém pega
Que ninguém quer
Não quer ver
Nem ter
Nem fazer

Responsabilizar
Amar

Definir
Cumprir
Fluir

Nenhum comentário:

Postar um comentário