quarta-feira, 30 de maio de 2018

SPOTLIGHT to me also, please

Há muitos e muitos dias atrás, eu já ensaiava escrever uma "Carta para Rita" e isto data de uns 60 dias atrás mais ou menos. Difícil ser precisa quando uma máquina de radioterapia  te dá rajadas ao sabor de guerra num fogo cruzado contra suas células neoplásicas que antes precisam ser mortas em detrimento de todo o seu corpo.

É muito difícil ler e escutar: - é um carcinoma! Mas escutar: - Pára de reclamar na frente de um cliente é muito mais nocivo e em maior proporção. Faz muito mais mal ao corpo ser desrespeitada, vítima de machismo e misogínia que escutar que teve uma lesão cancerosa no seu corpo.

Aliás, é o desdém, o desrespeito, a rejeição, o capitalismo, a exclusão por ser mulher e "diferente", a sociedade do cansaço, o deslocamento inútil de horas, a pobreza que nos faz produzir adrenalina, cortisol, noradrenalina eternamente e em desequilíbrio alterar as células do seu corpo. Tenho certeza, senti meu corpo se degenerar muitas vezes. Por isto, quis escrever uma saudosa carta à Rita, minha grande e inesquecível amiga daquela fabrica de gelatinas.

Ah Rita, você não sabe o quanto eu era feliz naquelas caronas e os momentos agradáveis no laboratório de pesquisa e desenvolvimento. Lidávamos com falsidade? Sim e muita! Com estrelismo? Muito! Puxação de tapete: sim! Aliás, a puxação de tapete é uma das fortes características do capitalismo. Neste ponto todas as grandes organizações de dinheiro do mundo disputam diariamente o prêmio de melhor puxação de dinheiro. A exclusão gera muito dinheiro. É uma fabrica inflacionária diante do massacre de inúmeras almas que não tem valor de mercado algum diante de milhões e milhões de casos de câncer diários.

Na última virada de ano, vi na TV os dados estatísticos de previsão de novos cânceres e pensei: "Santo Deus, tenho medo disto". Mas não adianta ter medo, em menos de 90 dias eu estava com o laudo da biópsia na mão. E um filme na minha cabeça de todas as vezes que fui submetida a torturantes sessões de stress. Nem as práticas militares de tortura aos presos políticos são tão eficazes quanto o stress.

A Rita sempre me fez falta depois daquele episódio de vida na fabrica de gelatinas, nas caronas, nos papos e nos nossos momentos de felicidade naquela laboratório. Saudades eternas.

Eternas de reconhecimento, respeito, voz, trabalho em equipe, saúde e sonhos!