quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Daniel

E eu parto
Com a mala fechada
Cerrada
Trancada
Amassada
Silenciada
Prensada

E oprimida
aos dissabores de solavancos das companhias aéreas

No interior da mala
Apenas o ar
O cheiro
Do que foi
Madri
Toledo
Ou Segovia
A via
De um ar rarefeito
Entrefeito
Mal-feito
Sujeito 

Aos ventos dos molinos de Dom Quixote
Que encheram essa minha mala vazia de ilusão
Borracheira
Dor e lágrimas

Encheram minha mala vazia 
E minha vida de possibilidade de sentir teu cheiro de perto
Suas mãos de fato
Sua barba na minha
Macia
Agoniante
De beijar seus lábios macios
Enquanto ria de felicidade e gozo
Em ter a minha pele acariciada
A tua
Amassada
Massageada
Pelas suas digitais espanholas

As digitais espanholas diferem muito das brasileiras?
Você não me deixou experenciar
Tocar
Beijar
Chupar

Regresso sem suas marcas espanholas em mim
Fruto do isolamento a que pertenço
Ao desapercebido que sou

Ah como sonhei e me insonei com esse desejo
De ter suas marcas em mim
Marcas quentes que me tatuassem
E escutar que isso era bom para ti
Que te transmutava do asco dos códigos de sistemas
E que tudo se tornaria por um noite 
Ou uma vida de prazeres

Em cambio de microorganismos entre peles
Do seu hálito 
Dos beijos
Dos seus lábios
Do seu acento
No tom de voz aos meus ouvidos
Embevecidos de beijos vorazes
Fugazes
E capazes

Essa coisa de alma
Que calma
Acalenta
Assenta
Amamenta
Atormenta

Que bom sentir o seu abraço
Trás minhas costas cansadas
Fadadas a dor
Ao peso do ar impuro
Escuro
Inseguro
Solitário
E alheio ao sabor do teu cheiro
Do aconchego

Da qual nunca tive o mérito de palpar
De sentir
De gozar
Rir e chorar
E tão pouco felicitar
Concientizar
Jamais realizar

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